sábado, 3 de outubro de 2009

Discurso de Obama aos alunos do seu país


O presidente falou ontem aos alunos da América
Sei que para muitos de vocês hoje é o primeiro dia de aulas, e para os que entraram para o jardim
infantil, para a escola primária ou secundária, é o primeiro dia numa nova escola, por isso é
compreensível que estejam um pouco nervosos. Também deve haver alguns alunos mais velhos,
contentes por saberem que já só lhes falta um ano. Mas, estejam em que ano estiverem, muitos devem
ter pena por as férias de Verão terem acabado e já não poderem ficar até mais tarde na cama.
Também conheço essa sensação. Quando era miúdo, a minha família viveu alguns anos na Indonésia e
a minha mãe não tinha dinheiro para me mandar para a escola onde andavam os outros miúdos
americanos. Foi por isso que ela decidiu dar-me ela própria umas lições extras, segunda a sexta-feira,
às 4h30 da manhã.
A ideia de me levantar àquela hora não me agradava por aí além. Adormeci muitas vezes sentado à
mesa da cozinha. Mas quando eu me queixava a minha mãe respondia-me: "Olha que isto para mim
também não é pêra doce, meu malandro..."
Tenho consciência de que alguns de vocês ainda estão a adaptar-se ao regresso às aulas, mas hoje
estou aqui porque tenho um assunto importante a discutir convosco. Quero falar convosco da vossa
educação e daquilo que se espera de vocês neste novo ano escolar.
Já fiz muitos discursos sobre educação, e falei muito de responsabilidade. Falei da responsabilidade
dos vossos professores de vos motivarem, de vos fazerem ter vontade de aprender. Falei da
responsabilidade dos vossos pais de vos manterem no bom caminho, de se assegurarem de que vocês
fazem os trabalhos de casa e não passam o dia à frente da televisão ou a jogar com a Xbox. Falei da
responsabilidade do vosso governo de estabelecer padrões elevados, de apoiar os professores e os
directores das escolas e de melhorar as que não estão a funcionar bem e onde os alunos não têm as
oportunidades que merecem.
No entanto, a verdade é que nem os professores e os pais mais dedicados, nem as melhores escolas do
mundo são capazes do que quer que seja se vocês não assumirem as vossas responsabilidades. Se
vocês não forem às aulas, não prestarem atenção a esses professores, aos vossos avós e aos outros
adultos e não trabalharem duramente, como terão de fazer se quiserem ser bem sucedidos.
E hoje é nesse assunto que quero concentrar-me: na responsabilidade de cada um de vocês pela sua
própria educação.
Todos vocês são bons em alguma coisa. Não há nenhum que não tenha alguma coisa a dar. E é a vocês
que cabe descobrir do que se trata. É essa oportunidade que a educação vos proporciona.
Talvez tenham a capacidade de ser bons escritores - suficientemente bons para escreverem livros ou
artigos para jornais -, mas se não fizerem o trabalho de Inglês podem nunca vir a sabê-lo. Talvez sejam
pessoas inovadoras ou inventores - quem sabe capazes de criar o próximo iPhone ou um novo
medicamento ou vacina -, mas se não fizerem o projecto de Ciências podem não vir a percebê-lo.
Talvez possam vir a ser mayors ou senadores, ou juízes do Supremo Tribunal, mas se não participarem
nos debates dos clubes da vossa escola podem nunca vir a sabê-lo.
No entanto, escolham o que escolherem fazer com a vossa vida, garanto-vos que não será possível a
não ser que estudem. Querem ser médicos, professores ou polícias? Querem ser enfermeiros,
arquitectos, advogados ou militares? Para qualquer dessas carreiras é preciso ter estudos. Não podem
deixar a escola e esperar arranjar um bom emprego. Têm de trabalhar, estudar, aprender para isso.
E não é só para as vossas vidas e para o vosso futuro que isto é importante. O que vocês fizerem com
os vossos estudos vai decidir nada mais nada menos que o futuro do nosso país. Aquilo que
aprenderem na escola agora vai decidir se enquanto país estaremos à altura dos desafios do futuro.
Vão precisar dos conhecimentos e das competências que se aprendem e desenvolvem nas ciências e na
matemática para curar doenças como o cancro e a sida e para desenvolver novas tecnologias
energéticas que protejam o ambiente. Vão precisar da penetração e do sentido crítico que se
desenvolvem na história e nas ciências sociais para que deixe de haver pobres e sem-abrigo, para
combater o crime e a discriminação e para tornar o nosso país mais justo e mais livre. Vão precisar da
criatividade e do engenho que se desenvolvem em todas as disciplinas para criar novas empresas que
criem novos empregos e desenvolvam a economia.
Precisamos que todos vocês desenvolvam os vossos talentos, competências e intelectos para ajudarem
a resolver os nossos problemas mais difíceis. Se não o fizerem - se abandonarem a escola -, não é só a
vocês mesmos que estão a abandonar, é ao vosso país.
Eu sei que não é fácil ter bons resultados na escola. Tenho consciência de que muitos têm dificuldades
na vossa vida que dificultam a tarefa de se concentrarem nos estudos. Percebo isso, e sei do que estou
a falar. O meu pai deixou a nossa família quando eu tinha dois anos e eu fui criado só pela minha mãe,
que teve muitas vezes dificuldade em pagar as contas e nem sempre nos conseguia dar as coisas que os
outros miúdos tinham. Tive muitas vezes pena de não ter um pai na minha vida. Senti-me sozinho e
tive a impressão que não me adaptava, e por isso nem sempre conseguia concentrar-me nos estudos
como devia. E a minha vida podia muito bem ter dado para o torto.
Mas tive sorte. Tive muitas segundas oportunidades e consegui ir para a faculdade, estudar Direito e
realizar os meus sonhos. A minha mulher, a nossa primeira-dama, Michelle Obama, tem uma história
parecida com a minha. Nem o pai nem a mãe dela estudaram e não eram ricos. No entanto,
trabalharam muito, e ela própria trabalhou muito para poder frequentar as melhores escolas do nosso
país.
Alguns de vocês podem não ter tido estas oportunidades. Talvez não haja nas vossas vidas adultos
capazes de vos dar o apoio de que precisam. Quem sabe se não há alguém desempregado e o dinheiro
não chega. Pode ser que vivam num bairro pouco seguro ou os vossos amigos queiram levar-vos a
fazer coisas que vocês sabem que não estão bem.
Apesar de tudo isso, as circunstâncias da vossa vida - o vosso aspecto, o sítio onde nasceram, o
dinheiro que têm, os problemas da vossa família - não são desculpa para não fazerem os vossos
trabalhos nem para se portarem mal. Não são desculpa para responderem mal aos vossos professores,
para faltarem às aulas ou para desistirem de estudar. Não são desculpa para não estudarem.
A vossa vida actual não vai determinar forçosamente aquilo que vão ser no futuro. Ninguém escreve o
vosso destino por vocês. Aqui, nos Estados Unidos, somos nós que decidimos o nosso destino. Somos
nós que fazemos o nosso futuro.
E é isso que os jovens como vocês fazem todos os dias em todo o país. Jovens como Jazmin Perez, de
Roma, no Texas. Quando a Jazmin foi para a escola não falava inglês. Na terra dela não havia
praticamente ninguém que tivesse andado na faculdade, e o mesmo acontecia com os pais dela. No
entanto, ela estudou muito, teve boas notas, ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade de
Brown, e actualmente está a estudar Saúde Pública.
Estou a pensar ainda em Andoni Schultz, de Los Altos, na Califórnia, que aos três anos descobriu que
tinha um tumor cerebral. Teve de fazer imensos tratamentos e operações, uma delas que lhe afectou a
memória, e por isso teve de estudar muito mais - centenas de horas a mais - que os outros. No
entanto, nunca perdeu nenhum ano e agora entrou na faculdade.
E também há o caso da Shantell Steve, da minha cidade, Chicago, no Illinois. Embora tenha saltado de
família adoptiva para família adoptiva nos bairros mais degradados, conseguiu arranjar emprego num
centro de saúde, organizou um programa para afastar os jovens dos gangues e está prestes a acabar a
escola secundária com notas excelentes e a entrar para a faculdade.
A Jazmin, o Andoni e a Shantell não são diferentes de vocês. Enfrentaram dificuldades como as
vossas. Mas não desistiram. Decidiram assumir a responsabilidade pelos seus estudos e esforçaram-se
por alcançar objectivos. E eu espero que vocês façam o mesmo.
É por isso que hoje me dirijo a cada um de vocês para que estabeleça os seus próprios objectivos para
os seus estudos, e para que faça tudo o que for preciso para os alcançar. O vosso objectivo pode ser
apenas fazer os trabalhos de casa, prestar atenção às aulas ou ler todos os dias algumas páginas de um
livro. Também podem decidir participar numa actividade extracurricular, ou fazer trabalho voluntário
na vossa comunidade. Talvez decidam defender miúdos que são vítimas de discriminação, por serem
quem são ou pelo seu aspecto, por acreditarem, como eu acredito, que todas as crianças merecem um
ambiente seguro em que possam estudar. Ou pode ser que decidam cuidar de vocês mesmos para
aprenderem melhor. E é nesse sentido que espero que lavem muitas vezes as mãos e que não vão às
aulas se estiverem doentes, para evitarmos que haja muitas pessoas a apanhar gripe neste Outono e
neste Inverno.
Mas decidam o que decidirem gostava que se empenhassem. Que trabalhassem duramente. Eu sei que
muitas vezes a televisão dá a impressão que podemos ser ricos e bem-sucedidos sem termos de
trabalhar - que o vosso caminho para o sucesso passa pelo rap, pelo basquetebol ou por serem estrelas
de reality shows -, mas a verdade é que isso é muito pouco provável. A verdade é que o sucesso é muito
difícil. Não vão gostar de todas as disciplinas nem de todos os professores. Nem todos os trabalhos vão
ser úteis para a vossa vida a curto prazo. E não vão forçosamente alcançar os vossos objectivos à
primeira.
No entanto, isso pouco importa. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo são as que
sofreram mais fracassos. O primeiro livro do Harry Potter, de J. K. Rowling, foi rejeitado duas vezes
antes de ser publicado. Michael Jordan foi expulso da equipa de basquetebol do liceu, perdeu centenas
de jogos e falhou milhares de lançamentos ao longo da sua carreira. No entanto, uma vez disse:
"Falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E foi por isso que fui bem-sucedido."
Estas pessoas alcançaram os seus objectivos porque perceberam que não podemos deixar que os
nossos fracassos nos definam - temos de permitir que eles nos ensinem as suas lições. Temos de deixar
que nos mostrem o que devemos fazer de maneira diferente quando voltamos a tentar. Não é por nos
metermos num sarilho que somos desordeiros. Isso só quer dizer que temos de fazer um esforço maior
por nos comportarmos bem. Não é por termos uma má nota que somos estúpidos. Essa nota só quer
dizer que temos de estudar mais.
Ninguém nasce bom em nada. Tornamo-nos bons graças ao nosso trabalho. Não entramos para a
primeira equipa da universidade a primeira vez que praticamos um desporto. Não acertamos em todas
as notas a primeira vez que cantamos uma canção. Temos de praticar. O mesmo acontece com o
trabalho da escola. É possível que tenham de fazer um problema de Matemática várias vezes até
acertarem, ou de ler muitas vezes um texto até o perceberem, ou de fazer um esquema várias vezes
antes de poderem entregá-lo.
Não tenham medo de fazer perguntas. Não tenham medo de pedir ajuda quando precisarem. Eu todos
os dias o faço. Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, é um sinal de força. Mostra que temos coragem
de admitir que não sabemos e de aprender coisas novas. Procurem um adulto em quem confiem - um
pai, um avô ou um professor ou treinador - e peçam-lhe que vos ajude.
E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem desencorajados e vos parecer
que as outras pessoas vos abandonaram - nunca desistam de vocês mesmos. Quando desistirem de
vocês mesmos é do vosso país que estão a desistir.
A história da América não é a história dos que desistiram quando as coisas se tornaram difíceis. É a
das pessoas que continuaram, que insistiram, que se esforçaram mais, que amavam demasiado o seu
país para não darem o seu melhor.
É a história dos estudantes que há 250 anos estavam onde vocês estão agora e fizeram uma revolução
e fundaram este país. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 75 anos e ultrapassaram
uma depressão e ganharam uma guerra mundial, lutaram pelos direitos civis e puseram um homem
na Lua. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 20 anos e fundaram a Google, o Twitter e
o Facebook e mudaram a maneira como comunicamos uns com os outros.
Por isso hoje quero perguntar-vos qual é o contributo que pretendem fazer. Quais são os problemas
que tencionam resolver? Que descobertas pretendem fazer? Quando daqui a 20 ou a 50 ou a 100 anos
um presidente vier aqui falar, que vai dizer que vocês fizeram pelo vosso país?
As vossas famílias, os vossos professores e eu estamos a fazer tudo o que podemos para assegurar que
vocês têm a educação de que precisam para responder a estas perguntas. Estou a trabalhar duramente
para equipar as vossas salas de aulas e pagar os vossos livros, o vosso equipamento e os computadores
de que vocês precisam para estudar. E por isso espero que trabalhem a sério este ano, que se esforcem
o mais possível em tudo o que fizerem. Espero grandes coisas de todos vocês. Não nos desapontem.Não desapontem as vossas famílias e o vosso país. Façam-nos sentir orgulho em vocês. Tenho a
certeza que são capazes.

1 comentário:

tem a palavra o povo disse...

Olá amigo. Há quanto tempo não te visitava!?... Vim ver se era comédia...se era humor ou ironia e li um belo discurso. Admito que é o que ele pode fazer, o que tem de fazer, porque é na educação e na formação civica, na escola, que a humanidade pode dar o impulso a uma forma de vida mais de acordo com as projecções que fazemos da nossa própria espécie.
Parabéns por teres partilhado este documento de exaltação ao ser capaz.
Um abraço