sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Branca de Neve e os Sete Anões

Existe uma ideia geral que a televisão e os filmes que as crianças assistem são muito violentos bem como que episódios de miúdos que chegam à escola e querem matar toda a gente são cada vez menos raros.
E como era no nosso tempo? Peguei num livro de histórias para crianças da Readers Digest de 1970 e escolhi a “Branca de Neve e os Sete Anões”. Eis o que se lê no livro que é bem diferente da versão cor de rosa de Walt Disney:
Era uma vez uma rainha que desejou ter uma filha mas que fosse bem branquinha não fossem suspeitar do marroquino que trabalhava nas cavalariças. Esse desejo foi satisfeito mas, tal como as telenovelas ,passado um ano a rainha morreu e o rei aproveitou para oficializar a relação que já tinha com a mulher mais “jeitosa” do reino. Como qualquer mulher, tinha uma raiva enorme por quem pudesse eventualmente se aproximar ou a ultrapassar em termos de beleza , de modo que passava a vida a falar para o espelho para se convencer que continuava a ser “a mulher mais sexy do reino”.
Mas a filha da rainha que se chamava Branca de Neve faz 7 anos (leram bem sete anos) o espelho que era pedófilo de certeza , começou a afirmar que a mais bela do reino era esta criancinha. A madrasta não suportando esta afronta e por se tratar de um conto para crianças chamou um dos seus homens e ordena-lhe que a mate no bosque e lhe tire o coração e os pulmões para depois ela os comer… O homem leva a Branca de Neve para o bosque mas, talvez por ter ordenados em atraso, resolve deixá-la fugir e mata antes um javali que sempre dá para fazer uns petiscos. A miúda andou perdida no bosque até encontrar uma casa onde entrou e aproveitou para “educadamente “ comer e beber de todos os pratos e copos que estavam na mesa e experimentar todas as sete camas que lá haviam até encontrar uma que servisse. Esta casa que pertencia a sete anões (porquê sete outra vez? Sete anos, sete anões..?!) que quando chegaram e viram a barafunda pensaram logo que as autoridades tinham vindo finalmente penhorar os haveres por causa da divida ao fisco mas ficaram aliviados quando viram aquela criança que poderiam por a fazer trabalho infantil a limpar a casa , cozinhar e fazer malha. A Branca de Neve que era uma miúda inteligente pensou logo que devia ser um concurso da MTV aceitou logo procurando descobrir onde estava a camera. Os anões avisaram a Branca de Neve para não abrir a porta a ninguém não fosse aparecer as Finanças ou as Testemunhas de Jeová.
A rainha acaba por descobrir o logro e mascarando-se de vendedora ambulante consegue descobrir a nova morada da Branca de Neve que sendo burra como uma porta a deixa a entrar mas infelizmente os anões chegam a tempo de a salvar. Os anões não se cansam de a avisar para não abrir a porta pois se tivesse sido as Finanças teria sido pior (para eles). A rainha tenta novamente, mas se na primeira e segunda vez os anões ainda chegaram a tempo , à terceira a rainha acaba por conseguir que ela trinque uma maça com veneno e a criança acaba por finalmente morrer. Os anões vendo isto aproveitaram para ganhar mais alguns tostões e colocaram-na num caixão de vidro para a populaça pagar para a poder ver. Um dia passou um príncipe que ao ver um cadáver dentro de uma caixão de vidro não descansou até o poder comprar aos anões que assim fizeram um excelente negócio. A empresa que foi encarregue de transportar o caixão para o palácio sacudiu o caixão tão violentamente que o pedaço envenenado da maçã saiu da boca da Branca de Neve e o príncipe ao ver a Branca de Neve viva fica logo eternamente apaixonado (como as telenovelas) querendo casar logo com ela. Não se esquecem de convidar a madrasta da miúda para a cerimónia obrigando-a a calçar um sapatos de ferro em brasa e dançar até morrer.
E aqui está uma bela história didáctica para crianças que nos liam quando éramos pequenos. Desculpem ficar por aqui mas tenho que ir buscar a minha espingarda e resolver um problema com o meu vizinho que voltou a estacionar no meu lugar…

2 comentários:

tem a palavra o povo disse...

SeaRuka.
Magistral. Eu bem me parecia que os nossos escritores contemporâneos, os deste novo século, não podiam ser só estes que vendem milhões!...de livros. Como sempre aconteceu na história da literatura, tinha que haver escritores de qualidade que não eram encaminhados para a ribalta das letras, vá-se lá saber porquê?!...
Com uma ilustração apropriada, subscrevo o êxito que tal versão da Branca de Neve teria se ousarem publicá-lo.
Um abraço

SeaRuka disse...

Sou apenas alguém que gosta de escrever sobre o que pensa sobre o mundo que o rodeia e brincar com isso de uma maneira séria.
Um abraço